Greening: O Desafio Global que Permeia os Pomares de Citros

greening

Um dos maiores desafios fitossanitários atuais da citricultura, que ameaça e dizima pomares, é a doença do greening. Desde a sua descoberta na Ásia há mais de um século, esta tem percorrido fronteiras e se estabelecido como uma ameaça significativa em diversas regiões, incluindo o Brasil. A chegada desta enfermidade aos pomares brasileiros marcou um ponto de virada, exigindo uma resposta assertiva e estratégias eficientes para sua contenção.

O Que é o Greening?

O greening, também conhecido como huanglongbing ou HLB, é a principal doença dos citros, sem cura para as plantas. Essa enfermidade é causada por uma bactéria, a qual é disseminada pelo minúsculo psilídeo Diaphorina citri, e apresenta-se como um desafio complexo. Seus primeiros registros são datados de mais de 100 anos atrás, na Ásia, e atualmente a problemática ocorre a níveis globais.

Em 2004, a presença do greening foi notada no Brasil pela primeira vez, nas regiões Centro e Leste do Estado de São Paulo, sinalizando a entrada dessa ameaça em território nacional. Segundo o Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), observou-se no Brasil um aumento de 56% na incidência do greening, passando de 24,4% em 2022 para uma média de 38,06% em 2023. Os prejuízos podem atingir patamares muito significativos, pois plantas contaminadas devem ser totalmente eliminadas, causando enorme prejuízo para uma cultura que possuí um ciclo produtivo relativamente longo.

Ciclo e Disseminação

A chave para entender a doença está na compreensão do vetor, um inseto de dimensões diminutas, mas com um impacto colossal nos pomares. O psilídeo, de coloração branca acinzentada e manchas escuras nas asas, é o transmissor da bactéria que causa a doença.

Essa relação entre o inseto vetor e a transmissão da bactéria desencadeia um ciclo perigoso, onde as plantas infectadas tornam-se verdadeiros veículos de disseminação para as demais no pomar. O floema das plantas, essencialmente por onde circula a seiva, torna-se o canal de transporte para a bactéria, infiltrando-se em raízes, ramos, folhas e frutos. Uma vez manifestados os sintomas nas extremidades das árvores, a infecção já se estabeleceu por todo o organismo, tornando vã qualquer tentativa de poda como solução.

Foto: Fundecitros

Os primeiros sintomas do greening costumam aparecer aproximadamente quatro meses após a infecção, continuando a se manifestar ao longo do ano. As plantas infectadas, mesmo sem sintomas visíveis, tornam-se fontes potenciais da bactéria, destacando a importância de monitoramentos regulares, tanto das plantas, quanto da presença do inseto vetor. Esta persistência silenciosa exige uma abordagem proativa, onde as plantas doentes devem ser identificadas e eliminadas para evitar o contágio.

O estágio de ninfa do psilídeo revela-se crucial, intensificando a aquisição e transmissão da bactéria. A necessidade de uma abordagem integrada e constante no controle do vetor torna-se evidente diante do rápido crescimento das brotações, as quais se tornam atrativos irresistíveis para o inseto transmissor.

Sintomas do Greening

Os sintomas do greening se revelam como marcadores visíveis de uma batalha silenciosa travada nos pomares de citros ao longo do ano, com impacto mais pronunciado entre o final do verão e o início da primavera. O entendimento preciso desses sinais é crucial para a detecção precoce e a implementação de medidas assertivas de controle.

Os primeiros indícios surgem com a presença de ramos que, quando jovens, exibem folhas amareladas, e quando maduras, apresentam um mosqueado peculiar. Esse padrão de manchas irregulares, alternando entre tons de verde e amarelo, revela a interferência da bactéria nas funções normais da folha, indicando o avanço do greening.

À medida que a doença progride, as folhas afetadas tendem a cair prematuramente, cedendo espaço para novas brotações com folhas posicionadas verticalmente, conferindo à árvore uma aparência característica de “orelhas de coelho”. A espessura aumentada e a textura áspera da nervura foliar, bem como a coloração amarelada, acrescentam camadas de complexidade aos sintomas observados.

Foto: Fundecitros

Os frutos, provenientes de ramos afetados, também não escapam da influência nefasta do greening. Apresentando deformidades, tamanho reduzido e assimetria em relação à columela central, esses frutos adquirem uma coloração verde clara manchada e, muitas vezes, caem prematuramente. A região de inserção do pedúnculo revela uma tonalidade alaranjada, indicando o comprometimento do processo de maturação.

Ao cortar um fruto afetado, revela-se uma complexidade adicional. Filetes alaranjados na columela a partir da região do pedúnculo, sementes abortadas e um albedo com espessura maior do que o normal se tornam características distintivas. O suco das frutas doentes apresenta um perfil sensorial alterado, com sabor mais ácido, menos doce e uma nota amarga, comprometendo a qualidade do produto final.

É crucial ressaltar que, em árvores mais jovens, a progressão da doença pode levar à comprometimento total em um curto período, enquanto em árvores mais maduras, os sintomas podem se manifestar ao longo de três a cinco anos. Diante desse cenário, a detecção precoce, a eliminação de plantas doentes e a constante vigilância tornam-se pilares essenciais na salvaguarda dos pomares contra os efeitos devastadores da doença.

Controle

Nessa busca por soluções que preservem a saúde dos pomares, o controle exige abordagens integradas e constantes para mitigar os danos causados por esta doença intratável. A eliminação de plantas sintomáticas emerge como um pilar fundamental para barrar a disseminação, assim como a implementação de um controle eficaz do vetor, o psilídeo Diaphorina citri. O uso controlado de inseticidas, com doses eficazes, a rotação de produtos com diferentes modos de ação e a aplicação constante em todas as partes da planta são elementos-chave na estratégia de controle.

Um alerta relevante no combate ao greening é a resistência observada em populações do psilídeo a certos grupos de inseticidas, como piretroides e neonicotinoides. A não rotação adequada de inseticidas com diferentes modos de ação, adotada por muitos citricultores, resultou na perda de eficácia desses produtos no campo. Para reverter esse quadro, é essencial promover a rotação com produtos de diferentes grupos químicos e modos de ação. Além disso, a aquisição de mudas sadias e de procedência idônea tornam-se pontos cruciais na batalha contra essa ameaça persistente.

Desafios e Perspectivas

A luta contra o greening não é apenas algo do presente, mas um desafio em constante evolução que exige um olhar perspicaz em direção ao futuro da citricultura. Enquanto nos deparamos com desafios substanciais no controle efetivo dessa doença, é imperativo reconhecer e antecipar as perspectivas futuras para proteger a vitalidade dos pomares de citros.

O contexto climático exerce uma influência significativa nas taxas de incidência da doença. Chuvas mais frequentes e temperaturas menos quentes durante a primavera e verão ampliam as condições favoráveis ao aumento do psilídeo e, consequentemente, à disseminação do greening. A compreensão dessas variáveis climáticas é essencial para aprimorar as estratégias de controle, ajustando-as às condições específicas de cada região citrícola.

Nesse cenário desafiador, a necessidade de um monitoramento constante emerge como a peça-chave para enfrentar os obstáculos presentes e futuros. A identificação precoce de plantas sintomáticas, aliada à pronta eliminação, torna-se uma linha de defesa crucial contra a propagação desenfreada do greening. A vigilância constante por parte dos citricultores, respaldada por um conhecimento aprofundado dos sintomas e práticas de manejo adequadas, desempenha um papel vital na sustentabilidade a longo prazo da citricultura.

Sobre – A SIMA é uma AgTech que surgiu em 2013 na Argentina com o objetivo de oferecer aos produtores uma plataforma simples, completa e inteligente para monitoramento, controle e análise de dados. Hoje a empresa está presente em 8 países da América Latina e possui mais de 8,3 milhões de hectares monitorados. Mais informações em: www.sima.ag/pt